O que torna os seres humanos sociáveis é sua incapacidade de suportar a solidão e, nela, a si mesmos. Em outras palavras, como as pessoas não conseguem se aguentar, procuram a companhia de outras para esquecerem de si.
É o vazio interior e o tédio que as levam à sociedade, bem como a terras estrangeiras e viagens. Sua mente carece de força para conceber seu próprio movimento; portanto, elas buscam refúgio em coisas externas, como por exemplo em bebidas, sendo que muitas se tornam alcoólatras dessa maneira.
Aliás, a sociabilidade também pode ser vista como um aquecimento mental mútuo das pessoas, como o aquecimento físico que elas atingem ao se aproximarem quando está muito frio. Mas quem tem muito calor mental não precisa dessa agregação.
Diante de tudo isso, a sociabilidade de todos tem uma proporção aproximadamente inversa ao seu valor intelectual; de modo que: se "Ele é muito anti-social" quase implica "Ele é um homem de grandes qualidades".
A solidão confere uma dupla vantagem à pessoa intelectualmente superior; primeiro de tudo, estar por conta própria, e o segundo, não estar com os outros. O último que valorizaremos muito quando considerarmos a quantidade de constrangimentos, aborrecimentos e até perigos que toda relação social traz consigo. Todos os nossos males vêm da incapacidade de ficarmos sozinhos.
A pessoa não sociável é alguém que não precisa desses seres. Possuir tanto em nós mesmos de modo a não precisar da sociedade já é algo de muito valor, porque quase todo o nosso sofrimento surge da sociedade e porque a paz de espírito, que, após a saúde, constitui o elemento mais essencial da nossa felicidade, é prejudicada por toda sociedade e, portanto, não pode muito bem existir sem uma quantidade considerável de solidão.
